Consumidor está transformando a compra em um ato social

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Alessandra Morita - alessandra.morita@savarejo.com.br -

As novas gerações chegam com maior consciência social e ambiental, diz Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. A empresa deve convidar o varejista para participar do seu programa em prol da Amazônia


                                                                                 Foto: Divulgação

 

Segundo dados do Google Trends, as buscas pelo termo “Amazônia” subiram 78% entre novembro do ano passado e o início de outubro de 2020. O pico aconteceu na semana de 27 de setembro a 3 de outubro. Um pouco antes, no dia 23/09, a JBS anunciou seu programa Juntos pela Amazônia , uma série de iniciativas que visam conservar e desenvolver o bioma. Quatro pilares sustentam o projeto: desenvolvimento da cadeia de valor, conservação e recuperação da floresta, apoio às comunidades e desenvolvimento científico/tecnológico. “Acredito que esse programa vai impactar muito a próxima geração”, afirmou Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, em entrevista à SA Varejo.

Entre as medidas, está a criação da Plataforma Verde JBS, que permitirá o monitoramento dos fornecedores indiretos de bovinos até 2025. Isso será possível pela utilização da tecnologia blockchain, que funciona a partir de blocos de informações, em que cada um traz dados do anterior, formando um banco amplo e seguro, já que também é criptografado. Outra iniciativa é a criação do Fundo JBS pela Amazônia, que financiará ações e projetos de desenvolvimento e será presidido pela ex-CEO da Seara, Joanita Karoleski. Aberto à participação de outras empresas, investidores e interessados em contribuir com doações, a ideia é alcançar R$ 1 bilhão até 2030.

Segundo Tomazoni, os varejistas também serão convidados a participar, o que poderá ser feito financeiramente ou por meio do compartilhamento de ideias. O executivo, de 62 anos e que comanda globalmente a companhia desde dezembro de 2018, ressaltou ainda que o consumidor acelerou comportamentos de antes da pandemia, como o consumo responsável, a preocupação pela garantia na origem e a saudabilidade dos produtos. “Alguns varejistas ainda não vislumbraram, mas as questões sociais estão se tornando mais e mais relevantes”, avaliou. Confira os detalhes na entrevista a seguir.

A JBS já tinha iniciativas voltadas à sustentabilidade. O que a levou a desenvolver um projeto robusto como o Juntos pela Amazônia?
Nós já monitorávamos 450.000 km2, área superior à da Alemanha, o que já era robusto na nossa cadeia. Mas há dois pontos que nos levaram a ampliar esse trabalho e a criar o programa Juntos pela Amazônia. O primeiro diz respeito a termos agora a disponibilidade de uma ferramenta, a partir da tecnologia de blockchain, que foi adaptada ao nosso setor, com a criação da Plataforma Verde JBS, e nos permitirá ir além do monitoramento de 100% dos nossos fornecedores diretos, que já acontecia. Todos eles estão de acordo com as nossas políticas, que evitam a compra de produtores que utilizem, por exemplo, trabalho análogo à escravidão ou estejam envolvidos com áreas de desmatamento, entre outros pontos. Agora vamos monitorar os fornecedores indiretos – ou seja, o fornecedor do nosso fornecedor. Então temos a tecnologia adaptada ao nosso processo, garantindo segurança, transparência e integridade nas informações. Dessa forma, os nossos parceiros se sentirão seguros em passar as informações provenientes do GTA [Guia de Trânsito Animal], pois sabem que os dados estão protegidos. É importante ressaltar que não queremos excluir fornecedores. Ao contrário, buscamos uma maior integração. Se for necessário, daremos suporte para eles se adequarem e continuarem fornecendo normalmente. Com tudo isso, será possível, de uma forma geral, produzir ainda mais por m2 de área. O que estamos falando, portanto, é de um conjunto de iniciativas de apoio que visa integrar, incluir e valorizar a cadeia e o produto brasileiro. No final, todos ganham

E qual é o segundo aspecto que levou à criação do programa?
O outro fator vem do que vivenciamos com o processo de doações da Covid-19 , que foi de R$ 700 milhões, sendo R$ 400 milhões apenas no Brasil. Para se ter uma ideia, criamos um comitê científico, investimos em 38 projetos de ciência, como o exame mais simples e barato desenvolvido pela USP para ser um substituto do PCR. Fizemos um trabalho com mais de 80 ONGs, apoiando projetos maravilhosos que elas tinham ou conheciam. Doamos 55 kits de cozinhas a mulheres da comunidade de Paraisópolis, que distribuem refeições aos moradores. Elas também participaram de uma capacitação em empreendedorismo com a Fundação Dom Cabral. Foram elas que produziram uma parte das 120 mil refeições que distribuímos no Dia Mundial da Alimentação [16 de outubro]. Participamos com ajuda a 280 municípios e construímos dois hospitais. Fizemos tudo isso apoiados por quem era especialista em cada área a partir dos comitês criados.

Como essa experiência foi levada ao Juntos pela Amazônia?
Vimos que, se é possível impactar tão positivamente a vida das pessoas, por que não atuar também na mudança climática, parte da nossa estratégia de sustentabilidade. Criamos o Fundo JBS pela Amazônia, em que vamos utilizar a metodologia empregada nas doações para o combate à Covid-19. Teremos assim um comitê técnico e um conselho consultivo, do qual participam varejistas. Eles nos ajudarão com o portfólio de projetos voltados ao desenvolvimento da Amazônia, que serão financiados e que nos permitirão impactar significativamente as questões da região. Para viabilizar isso, é preciso ter os recursos financeiros. Por isso, a ideia é que o fundo alcance R$ 1 bilhão até 2030 e, para isso, queremos trazer mais gente para esse processo, por meio de doações. Para cada real que for doado até R$ 500 milhões, vamos colocar R$ 1. Mas, para já ir formando um portfólio de projetos, aportaremos inicialmente R$ 250 milhões.

“O consumidor não está procurando só a compra física,
mas fazendo dela um ato de apoio a questões sociais.
As novas gerações estão vindo com maior consciência social e
ambiental. É uma evolução natural, e o varejo precisa
ter uma conexão com essas pessoas”

 

O que torna esse programa, de fato, efetivo na questão da Amazônia?
Acredito que ele vai impactar muito a próxima geração. É uma oportunidade para quem quer contribuir. E não só contribuir com dinheiro, mas também com ideias e projetos. A qualidade das pessoas que trouxemos para o comitê técnico e para o conselho consultivo será vital para definir um portfólio de projetos relevantes para o bioma e com grande abrangência. Outro ponto é a capacidade de executar e fazer com velocidade. O projeto conta com dinheiro, gente para executar e gente que sabe o que precisa ser feito na Amazônia.

Em um webinar da SA Varejo, em outubro, você comentou que reduzir o desmatamento passa pelo desenvolvimento da Amazônia. Como o programa pode ajudar nessa questão específica?
Educação está associada diretamente ao desenvolvimento social e ambiental. Mais de 20 milhões de pessoas vivem na Amazônia e, se não tivermos desenvolvimento humano e social, a consciência vai ser muito menor. Se uma árvore vale mais derrubada porque as pessoas estão preocupadas com a sua subsistência, fica muito claro que precisamos promover o desenvolvimento social. Caso contrário o desmatamento vai acontecer. A ideia é ter um trabalho educacional para promover o desenvolvimento social. O exemplo que citei da nossa ação em Paraisópolis vai nessa linha. Assim como foi feito lá, podemos ter parceiros, como a Fundação Dom Cabral, que pode, por exemplo, ajudar desenvolvendo o empreendedorismo. E sabemos que a maioria das empresas não sobrevive por problemas relacionados à gestão.

Como as questões da Amazônia podem impactar também o varejo?
Todos nós estamos na cadeia para atender o consumidor, sendo que o varejo é o elo final. As pessoas aceleraram alguns comportamentos de antes da pandemia, como o consumo responsável, a preocupação pela garantia na origem, a saudabilidade do produto. Estamos falando de um consumidor que não está procurando só a compra física, mas fazendo dela um ato de apoio a questões sociais. As novas gerações estão vindo com maior consciência social e ambiental. É uma evolução natural, e o varejo precisa ter uma conexão com essas pessoas. Alguns ainda não vislumbraram, mas as questões sociais estão se tornando mais e mais relevantes. Os varejistas maiores já sofrem, fora do Brasil, pressão por questões desse tipo. Em contrapartida, ainda há muitas redes focadas apenas no faturamento. Mas existe um processo natural de evolução, e vemos, ao longo do tempo, que os mais antenados com o consumidor costumam ser os vencedores. É importante frisar que o varejo lida diretamente com esse cliente final e nós estamos no meio. Precisamos também da parceria dos varejistas no nosso programa. Por isso, pretendemos conversar com eles para apresentar nosso plano e desenvolver esse trabalho conjuntamente. O varejo pode contribuir financeiramente ou com ideias.

“Precisamos da parceria dos varejistas no nosso
programa. Por isso, pretendemos conversar com eles para
apresentar nosso plano e desenvolver esse trabalho conjuntamente.
O varejo pode contribuir financeiramente ou com ideias”


Na sua opinião, esse comportamento deve se acelerar no Brasil mesmo considerando que a maioria dos brasileiros ainda tem necessidades básicas de consumo?
Muitos consumidores ainda não têm as condições para fazer do seu ato de compra um manifesto social. É preciso começar dando acesso a essas pessoas, o que passa por ser mais eficiente. Como disse, há oportunidade de produzir mais alimentos por m2. Afinal só temos este planeta e os recursos disponíveis nele. Teremos 10 bilhões de pessoas no mundo em 2050. Segundo a ONU, cerca de 690 milhões são afetadas pelo problema da fome. Daí a necessidade de desenvolvermos produtos mais competitivos e, para ter um avanço sustentável, precisamos de foco na inovação, na ciência, na pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias. Isso é fundamental para ter alimentos acessíveis e trabalharmos a sustentabilidade. Se não desenvolvermos o Amazonas teremos problemas ambientais maiores, menor produtividade e alimentos mais caros.

Fale um pouco do seu envolvimento pessoal no programa.
Eu me emociono com esse projeto porque sei que estamos deixando um legado e fazendo a diferença na vida das pessoas. É um projeto aberto a todos e no qual todos vão ganhar. Cada vez mais vamos ter aqui pessoas melhores, uma empresa melhor, um País e um mundo melhores. O programa é um propósito, uma forma de ajudar, de apoiar e desenvolver as pessoas e de contribuir para o crescimento delas. Me emociona ver essa oportunidade de todos crescerem, e é isso o que levamos. Além disso, o programa é importante demais para a natureza e para a conservação do meio ambiente. Fico feliz por estar neste momento na companhia e pelo fato de que podemos fazer parte desse movimento. Diria que é um privilégio de vida, porque não conseguiria fazer sozinho. A companhia tem tamanho e capacidade de mobilização e pode fazer muito. Quero fazer o meu melhor para ter o máximo impacto possível na vida de tantas pessoas. É um dos melhores momentos da carreira estar podendo ser agente, com mais colegas, de transformação.


PARCERIAS DA JBS COM O VAREJO

De acordo com Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS, a companhia tem uma história de relacionamento de longo prazo com os varejistas. “Para nós, é muito relevante estarmos junto com os clientes. Nosso trabalho com o varejo busca sair do transacional e focar três objetivos: ajudar a ser mais eficiente, a crescer e a ser diferente”, diz o executivo. A companhia mantém uma série de programas que têm como base esses pilares. Entre eles:

LOJAS SWIFT (conceito de loja dentro da loja): “Temos o modelo em cerca de 150 unidades dos nossos clientes. É um trabalho que ajuda a diferenciar, pois aportamos tecnologia do produto, além de ajudar a ser mais eficiente. Como a carne é congelada, há uma redução na quebra e também na mão de obra, além de conferir relevância e agregar à venda do varejo.”

AÇOUGUE NOTA 10 : “Em algumas lojas, temos esse modelo e o da Swift, pois esse trabalho é desenvolvido nas carnes resfriadas. O programa contribui para melhor apresentação dos cortes, maior segurança alimentar e mix diversificado. Entramos com treinamento e fazemos o gerenciamento com o varejo, elevando a produtividade.”

“Nos modelos digitais que operamos,
as vendas do varejo aumentam”

LOJA SEARA (e-commerce): “O número de pessoas que utilizam os canais digitais aumentou muito, por isso desenvolvemos uma loja online que não vende direto ao consumidor, mas na qual ele faz o checkout no site de um varejista. É um trabalho completo, que começa atraindo os consumidores para a plataforma. Nesse ponto, as mídias sociais têm se tornado muito relevantes para entrarmos na conversa das pessoas. Com a Loja Seara, fomentamos o desenvolvimento do negócio online para o varejo. Fazemos o trabalho de comunicação, monitoramos se o varejista tem o sortimento, se não tem ruptura e assim ajudamos nossos clientes a crescer. Conseguimos ainda digitalizar os pequenos varejos que não têm e-commerce pela nossa plataforma de marketplace Comer Bem.”

 

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