Pets ganham os lares brasileiros, mas como atender às expectativas de seus tutores?

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Natasha Bin - redacao@savarejo.com.br -

Cinco em cada dez tutores dizem não economizar dinheiro quando buscam bons produtos para os seus animais


Foto: Adobe Stock

Muito mais do que animais de estimação, cães, gatos e outros bichos desempenham um papel muito mais emocional na família brasileira do que antes. Mas fabricantes e varejistas estão preparados para encantar esses consumidores?

Ter um pet em casa já virou regra para a maioria dos brasileiros. Esse é um retrato de uma nova composição de lares, consequência do modo de viver e dos valores do público millennium – que tende a se expandir para as gerações seguintes – e de uma lacuna emocional acelerada pela crise da Covid-19. Adaptar-se a esse comportamento é essencial para indústrias e sobretudo para o varejo na tarefa de encantar o consumidor.

Segundo o Censo Pet IPB, realizado pelo Instituto Pet Brasil, 7 em cada 10 pessoas têm um animal de estimação como companhia. Em 2021 (os dados do ano passado não tinham sido consolidados até o fechamento desta edição), a população de animais no País chegou a 149,6 milhões, aumento de 3,7% em relação a 2020.

Os números posicionam o Brasil como a terceira nação com mais pets no mundo e o sexto maior mercado do planeta, com faturamento de R$ 51,7 bilhões em 2021, considerando indústria, serviços, venda de animais direto dos criadores e redes de varejo. Para 2022, a tendência é mais crescimento.

Esse avanço atingiu altas significativas a partir da pandemia, em 2020, quando o mercado registrou 27% de aumento no faturamento. O índice comprova quão emocional é a relação do brasileiro com seus animais de estimação. Além disso, um estudo da MindMiners aponta que ter companhia é o principal motivo para adotar um pet. E mais: cinco em cada dez tutores dizem não economizar dinheiro quando buscam bons produtos para os seus animais. Ou seja, o consumidor não mede esforços para agradar a seus pets, mas será que o varejo sabe encantar esse tutor e aproveitar todo o potencial que a categoria oferece?

Indústria
ascensão da categoria atrai novos fornecedores

Com números em alta e apego incondicional, a indústria aposta cada vez mais no segmento. Em 2021, a BRF adquiriu duas empresas do setor de rações para animais domésticos, a Mogiana Alimentos e o Grupo Hercosul. A compra, que movimentou cerca de R$ 1 bilhão, consolida a BRF Pet como a terceira maior empresa em faturamento de pet food no Brasil. A multinacional brasileira já detém 10% de todo o mercado interno, disponibilizando um portfólio com mais de 20 marcas nacionais e internacionais. “A expectativa é nos tornarmos um dos dois grandes players de pet food até 2025, além de nos preparar para a liderança no futuro”, afirma Amanda Capucho, head da BRF Pet.

Outra indústria que mira esse mercado é a Coamo, que lançou em 2022 um projeto para uma nova fábrica de ração animal. Segundo a cooperativa, que atualmente conta com produção terceirizada, a unidade terá capacidade para produzir 200.000 toneladas de ração. O volume é cinco vezes maior do que o montante comercializado atualmente pela companhia.


Foto: Divulgação

Execução faz a diferença
Alguns cuidados podem ajudar a impulsionar a categoria no varejo alimentar, segundo a BRF: sortimento mais qualificado com variedade de opções, gôndola bem organizada e sinalizada e limpeza são exemplos do que ficar atento

Supermercados aprender para crescer

Enquanto a indústria faz grandes investimentos para aproveitar ao máximo o potencial do mercado pet, o varejo alimentar ainda tem presença tímida no setor. “Os supermercados historicamente não sabem trabalhar a categoria de produtos pet. Em geral, o sortimento é muito básico, a localização da seção e os planogramas muito pouco eficientes, e com isso a categoria perde atratividade”, analisa Alexandra Jakob, especialista em varejo e fundadora da Allez Boutique de Estratégia. Na opinião da consultora, o varejista pode aprender com a indústria como aproveitar todo o potencial que a categoria oferece.

Amanda, da BRF Pet, concorda: “algo comum que vemos no varejo é deixar a categoria de pet muito apertada, com um mix pequeno de produtos. Sabemos que o espaço da loja é limitado, mas o consumidor desse canal também busca variedade de opções”, diz. Segundo ela, o supermercadista também deve evitar furar os sacos de ração para posicionar melhor as embalagens na prateleira, pois há risco de entrada de insetos no produto e insegurança. Também é preciso atenção à limpeza e à organização do corredor de produtos pet.

Segundo a executiva, a BRF Pet oferece suporte para os varejistas manterem o PDV visualmente atraente. Além disso, a empresa recomenda, como forma de conquistar o consumidor e aumentar as vendas, apostar em datas especiais, como o Dia Mundial dos Animais e o Dia do Amigo, e criar pontos extras na loja, incluindo, por exemplo, snacks e sachês no checkout.

“O supermercado que conseguir incluir produtos para pets na cesta do shopper vai aumentar expressivamente o tíquete médio, pois o item mais vendido da categoria é a embalagem de 10,1 kg, que pode chegar a custar até R$ 150"
AMANDA CAPUCHO - Head da BRF Pet

Foto: Freepik

05 dicas práticas
para aproveitar melhor a categoria e encantar o consumidor de pet, segundo a consultora Alexandra Jakob

  • Reposicione a categoria para espaços mais privilegiados no layout
  • Trabalhe com sortimento de melhor qualidade mesmo que se concentre apenas nas linhas de produtos-chave, como ração e tapetes higiênicos
  • Desenvolva projetos em parceria com a indústria para levar informação sobre a categoria aos consumidores 
  • Trabalhe (muito) o segmento no e-commerce
  • Esteja atento às novidades do setor. Segmentos como bem-estar, saúde, moda, tech pet estão em estágios iniciais e trarão novos players e consumo a esse mercado

Relação emocional chave para conquistar o tutor de pet

Para Luan Oliveira, gerente de trade marketing da Mind Shopper, consultoria especializada em PDV, o supermercadista precisa ir além do produto e pensar sobre serviços, experiências e propósitos. “A categoria de pet está cada vez mais ligada à emoção. Portanto, trabalhar o emotional branding, desenvolvendo uma relação entre o consumidor e a marca focando as emoções, é a estratégia a ser adotada”, afirma o especialista. Como exemplos do que pode ser feito, ele cita criação de conteúdo com apelo emocional, promoções com vantagens para o animal e ações de experimentação em espaços pet friendly.

Enquanto parte das redes de varejo ainda está na fase da lição de casa, outras já aproveitam bem a categoria. A CSD (Companhia Sulamericana de Distribuição), detentora de quatro bandeiras e um total de 57 lojas nos Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul, realiza festivais Pet duas vezes por ano. “As lojas são tematizadas e ganham espaços adicionais, explorando ainda mais o sortimento existente”, explica Marcos Pozzi, diretor comercial da CSD. Segundo ele, a categoria Pet representa 4,7% do faturamento da companhia e para 2023 a projeção de crescimento é de 20%.

A paulista Coop também aposta em Festivais Pet para encantar os tutores. Os eventos são realizados trimestralmente como uma forma de gerar visibilidade para a categoria e proporcionar experimentação e fidelização. “Os pets sempre acabam conquistando o coração de seus tutores humanos e, por isso, são membros da família e merecem toda a nossa atenção”, destaca Eliete Cavalcante, da equipe de compras da Coop. A rede não só investe em um mix com alimentos úmidos e secos, petiscos, recompensas, higiene e acessórios, como também criou uma marca própria de produtos pet e planeja expandir sua presença no mercado a partir de serviços. Para o primeiro trimestre de 2023, a rede irá lançar a “Assistência Pet e Funeral”, em parceria com a IGS Integral Group Solution. “O produto contará com um quadro amplo de coberturas, como aplicações de vacinas, consultas com especialistas, internação, cirurgias, atendimento ambulatorial e de emergência”, comenta Eliete.

Itens mais comercializados na Coop

  • Rações para cães, gatos e pássaros
  • Snacks
  • Itens de higiene


Foto: Divulgação

Para bajular o pet
A Coop (SP) oferece, além de rações, snacks, biscoitos e outros itens para tutores mimarem seus animais de estimação

Educar e encantar
conteúdo informativo e campanhas de conscientização

Ana Cristina Pinheiro, gerente de marketing da Royal Canin Brasil, também acredita que a melhor forma de encantar o consumidor é ir além de produtos. “Trabalhamos com iniciativas e conteúdos sobre a importância dos cuidados com os pets em campanhas anuais. Nossa estratégia está alinhada para fortalecer a plataforma de contato com o tutor, levando informação e conhecimento para o consumidor sobre questões específicas e de cuidado com os animais e visando promover melhor qualidade de vida e bem-estar aos animais e seus tutores”, explica a executiva.

A prática já é bem comum em lojas especializadas, como a Cobasi, que no final de 2022 divulgou uma pesquisa sobre o abandono de animais, reforçando os principais cuidados ao adotar pets e a importância de planejar a adoção. A rede disponibiliza em sua plataforma "Cobasi Cuida" informações sobre guarda responsável de animais e como encontrar cães e gatos para adotar.

Apesar de acreditar que os supermercados não devam concorrer com as lojas especializadas de produtos pet, a consultora de varejo Alexandra avalia que as redes supermercadistas precisam entender melhor a categoria para tirar o máximo proveito dela e conectar-se melhor com o consumidor. “Os supermercados precisam entender que a maioria dos lares brasileiros tem um pet e que esse segmento é tão ou mais importante que outras categorias já desenvolvidas. Millennials, por exemplo, têm optado por começar suas famílias através dos pets e são obcecados por eles. E com taxas de fertilidade caindo, tutores têm agido como pais e mães de seus pets. Com isso, decidem investir no que há de melhor para seus ‘filhos’ em todos os segmentos”, explica.

Mostrar que a rede está alinhada com a causa animal pode ser uma maneira de atrair e fidelizar consumidores. Promova feiras de adoção responsável, eduque sobre o tema e apoie ONGs da sua região


Foto: Divulgação

Informando o cliente
A Royal Canin oferece materiais que explicam os benefícios dos produtos para a alimentação e o bem-estar dos pets

Foto: Freepik

O pulo do gato

Se o cão sempre foi o melhor amigo do homem, os gatos não estão muito atrás como companhia preferida. A população de felinos registrou o maior crescimento no Brasil entre 2020 e 2021, segundo o Censo Pet IPB. O índice atingiu 6%, enquanto o aumento de cães foi de 4%. Levantamento realizado pela Royal Canin e Instituto IBPAD em 2022 confirma a tendência: houve um aumento de 30% no número de felinos nos lares brasileiros durante a pandemia, sendo que 16% dos casos são de tutores de primeira viagem. De acordo com o estudo, a previsão é de que em menos de 10 anos os gatos sejam os pets predominantes no País.

Matéria originalmente publicada na    edição de Janeiro/Fevereiro da   SA Varejo   .

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