Livro conta como Arthur Sendas construiu uma das maiores redes de supermercados do país

Empresário foi dos armazéns para os supermercados, dos supermercados para as redes e das redes para os conglomerados

Foto: Divulgação

Acaba de ser publicado o livro “Arthur Sendas: uma história de pioneirismo e inovação”, escrito pela escritora e jornalista, Luciana Medeiros, pela editora Máquina de Livros. O relato biográfico, encomendado pela família, conta a trajetória da rede de supermercados Sendas, em meio às sucessivas crises da economia brasileira. O livro aborta, além do varejo supermercadista, a participação do executivo nos debates nacionais.

O início se dá em 1915, com a chegada do pai Manoel ao Brasil, e depois segue com a inauguração do Armazém Trasmontano, em 1925. Nos anos 1940, com sete anos, Arthur já ajudava atendendo fregueses na loja do pai, em São João de Meriti (RJ). Em 1960, tem início a criação da marca Sendas, e uma estratégia de compra de imóveis que ainda hoje traz frutos ao grupo.

A partir de 1960 – especialmente depois do choque de saques às lojas em 1962 em um movimento influenciado por problemas de desabastecimento e de greve nacional -, Arthur Sendas cresceu como empresário, construindo uma rede de dezenas de lojas no Estado do Rio.

O livro intercala as lembranças sobre os anos do milagre econômico, os sucessivos planos dos anos 80 para tentar combater a hiperinflação, além da experiência do Plano Real e da crise russa, nos anos 90, por exemplo. Além disso, conta a evolução do setor de supermercados - dos armazéns aos hipermercados.

“Ele foi uma pessoa que nasceu neste lugar [São João de Meriti] e que reuniu qualidades, muitas do pai, como a determinação, e da mãe, como a aproximação com os funcionários, e que carrega a mudança do setor [de supermercados]. Uma presença que vai ser lembrada por muito tempo. Ele estava no momento da transformação e foi muito importante para ela. É muito impressionante essa força dele”, conta a autora. O livro relata as diferentes etapas dessa transformação: “Dos armazéns para os supermercados, dos supermercados para as redes e das redes para os conglomerados. Ele resistiu bravamente até esta última etapa, como uma empresa 100% nacional de capital fechado”.

De acordo com Fábio Rossi de Queiróz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj), a trajetória de Arthur Sendas marca até hoje o setor de supermercados. Diferentemente de outras regiões do país as redes locais têm mais força no Rio. “A penetração das redes regionais no Rio é muito maior que em outros mercados. E o grande capitão disso foi o seu Arthur Sendas, que mostrou que era possível. Ainda hoje a presença dos grandes conglomerados é menor no Rio que em outros locais”, afirma.

O livro mostra ainda o aumento do endividamento da rede no fim dos anos 1990, principalmente depois da compra da rede Três Poderes, cujo custo final de aquisição acabou saindo bem maior que o previsto.

O movimento acabou contribuindo para a disparada da dívida do grupo, combinado com os efeitos da maxidesvalorização do real e a concorrência das multinacionais. Foi preciso recorrer a um empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com emissão de debêntures. Na época, o faturamento da Sendas era de R$ 2,6 bilhões (R$ 14,6 bilhões em valores de 2022, segundo o livro), com 80 lojas. Era o único grupo que permanecia 100% nacional e de capital fechado.

O contexto difícil levou o patriarca a abdicar do perfil de centralizador e aceitar a negociação com o Grupo Pão de Açúcar — a rede Sendas acabou unindo-se ao GPA.

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