Como o varejo de Portugal enfrenta desafio da ruptura

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Fernando Salles (edição) -

Miguel Murta Cardoso, CEO da rede Compracá, conta o que tem sido feito neste momento

A crise do Coronavírus chegou sem dar tempo para adaptações prévias por parte do varejo. Neste momento, um bom caminho para decifrar o que pode ser feito é aprender com a experiência de outros países.

Em Portugal, onde há mais de 3.500 registros de Covid-19 com 60 mortes relacionadas à doença, a corrida aos supermercados também gerou grande incremento nas vendas. Para entender o cenário do setor varejista em terras portuguesas e o que tem sido feito por lá no combate à ruptura, SA Varejo pediu um depoimento a Miguel Murta Cardoso, CEO da rede Compracá – Supermercados de Proximidade e ex-consultor sênior de varejo. Confira o relato detalhado do executivo: 

"Num primeiro momento, a reação das pessoas é de abastecerem os seus lares com todo o tipo de produtos com prazos de validade maiores. Estamos a falar, por exemplo, de produtos como conservas, massas, arroz e congelados. Existe também uma grande preocupação com a higiene, caso seja necessário ficar em casa por um longo período. Por isso, também é normal registarem-se fortes crescimentos em categorias de higiene e limpeza.

Enquanto Portugal já ultrapassou esta fase, diria que no Brasil a consciencialização da população chegou mais tarde e ainda se encontra nessa fase de estocar a despensa.

No segundo momento, as pessoas começam a ter mais calma porque, em primeiro lugar já têm as despensas lotadas de comida, em depois já perceberam que os produtos não vão faltar de um dia para o outro e os supermercados não vão fechar. Em Portugal, atualmente todos os restaurantes estão fechados e as pessoas não vão trabalhar no local habitual, ficando em casa em trabalho remoto. Assim sendo, e apesar de continuar a existir entregas ao domicílio dos restaurantes, a maior parte do que antes era consumido fora da sua habitação, passou a ser comprado nos supermercados. Logo, nesta fase regista-se um forte aumento das vendas dos produtos frescos como frutas, legumes, vegetais, carne, pão, ovos, laticínios e take away.

No terceiro momento, que não chegou nem no Brasil nem em Portugal, a vida começará a voltar ao “novo normal”. Nesse período é que estão concentradas todas as incertezas. Por um lado, existem as pessoas que continuam com poder de compra e estarão com vontade de sair à rua, frequentar restaurantes, ficar na praia, conviver nos botecos. Por outro lado, haverá pessoas que perderão poder de compra com esta crise, muitos ficando mesmo desempregados, e naturalmente as suas despesas em supermercados se resumirão ao básico. 

Paralelamente a todos estes momentos, surgem uma série de novos desafios, que precisam ser analisados em função da realidade de cada empresa e, por isso, cada caso terá de ser analisado individualmente.

Enfrentando o desafio das rupturas

Numa altura destas, é muito difícil assegurar que não haverá rupturas nas gôndolas dos supermercados. O comportamento dos clientes é muito fora do normal e não existem dados históricos para prever o seu comportamento. O algoritmo habitual vai falhar.

Assim sendo, o importante é fazer essa gestão diariamente. Os gerentes das lojas, em conjunto com a sua equipe, devem identificar diariamente quais são os produtos que estão a vender mais e em risco de ruptura. Devem estar atentos, também, a mudanças no comportamento dos clientes. Os dados das vendas e a sua variação devem ser analisados todos os dias. As promoções devem ser todas canceladas, pois só cria mais incerteza na procura e não há necessidade de incentivar mais compras.

Em Portugal já foi limitado o número de clientes que entram em cada loja, sendo essa restrição em função do tamanho do ponto de venda. Assim, ao se garantir que há menos fluxo de clientes dentro das lojas, também se garante que há mais chão de loja livre. Então esse espaço deve ser aproveitado para criar ilhas com os produtos mais procurados pelos consumidores (conservas, papel higiénico, ovos, leite, entre outros) e não para as habituais promoções.

Em relação aos alimentos frescos, não é hora de se preocupar com quebra. Faça as suas encomendas por cima, exagere. É muito comum em todos os supermercados da Europa vermos as caixas das frutas, legumes e vegetais vazias. Não caia nesse erro, porque se arrisca a perder seus clientes para a concorrência. Não esqueça de que todos os alimentos dos seus clientes serão adquiridos na sua loja, porque estes deixarão de frequentar restaurantes. Por isso, é importante encontrarem um vasto sortimento de produtos frescos sempre que se deslocarem até o seu estabelecimento."

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